De onde surgiram as primeiras linhagens usadas no cultivo?

O cultivo de cogumelos é uma atividade relativamente recente na história humana. Durante as primeiras décadas de cultivo de cogumelos no mundo, as culturas iniciais eram provenientes de isolados da natureza. A produtividade era muito baixa e o cultivo estava restrito a poucas espécies de cogumelos, sendo que o Agaricus bisporus (champignon) representava a maior parcela da produção. Junto com o desenvolvimento da tecnologia do cultivo de A. bisporus, novas linhagens também foram surgindo. Durante vários anos, cultivadores franceses de champignon começaram a selecionar algumas características que eram mais desejáveis. A história do melhoramento genético no cultivo de cogumelos está intimamente ligada à sua domesticação, produção e comercialização. Aos poucos os cultivadores foram substituindo antigas linhagens por novas linhagens cada vez mais adaptadas ao cultivo, resistentes a pragas e com maior produtividade. Além disso foi possível a seleção de traços fenotípicos como a cor do chapéu, altura do talo, tempo de maturação etc.

A principal característica obtida por esses cultivadores no início das pesquisas com linhagens foi a mutação branca no cogumelo Agaricus bisporus, até então uma espécie de cor marrom. Em 1926 um mutante de coloração branca brotou espontaneamente em um cultivo na Pensilvânia, e hoje é o que conhecemos por Champignon. Todas as linhagens atuais de Champignon são descendentes desse isolamento. Existem outras linhagens comerciais de A. bisporus, como por exemplo o Portobello, que possui um chapéu marrom bem grande, além de diversas outras variedades com tons de cor e características diferentes.


Mutações que geram frutos diferentes no cultivo são relativamente comuns em todas as espécies de cogumelos. Quando essas linhagens diferentes são isoladas, pesquisadas e cultivadas, podem causar mudanças disruptivas em todo o setor de produção dessa espécie. Na natureza também podemos encontrar uma enorme variabilidade genética entre diferentes populações de uma mesma espécie de cogumelo. Podemos encontrar, por exemplo, uma mesma espécie de cogumelo crescendo em diferentes altitudes, diferentes faixas de temperatura e umidade, até mesmo diferentes substratos (tipos de árvore). Por conta dessa enorme variabilidade, cogumelos selvagens são fontes de linhagens que podem ser domesticadas e adaptadas ao cultivo em ambiente controlado. Quando “domesticamos” um cogumelo selvagem e obtemos o seu micélio isolado, pouco sabemos sobre as suas características dentro de uma estufa, como rendimento, aparência, tempo de frutificação etc. Por mais que conheçamos a espécie em questão, é necessário conduzir uma série testes para descobrir se essa linhagem vai se desenvolver de acordo com o esperado. Falaremos sobre domesticação de cogumelos selvagens em breve aqui no Blog.

Então as linhagens são obtidas da natureza e de mutações no cultivo?

Essa frase já fez mais sentido em um outro momento da história do cultivo de cogumelos. Existem outros métodos para obtenção de novas linhagens, incluindo cruzamentos, hibridização, indução de mutações por radiação UV ou agentes mutagênicos, fusão de protoplastos etc. Essas outras formas de se obter uma linhagem nova serão abordadas em outro post aqui no Blog da Fungicultura. Boa parte dos laboratórios que produzem inóculo utilizam matrizes de linhagens adquiridas com empresas especializadas no exterior ou através de compras e trocas com outros cultivadores. Alguns ainda mantém campos experimentais para desenvolver suas próprias linhagens. Vários cultivadores de cogumelos possuem uma coleção pessoal de micélios preservados que frequentemente são replicados e compartilhados entre si.

Linhagens diferentes, cogumelos diferentes?

Algumas vezes as diferenças entre duas linhagens são nitidamente perceptíveis. A começar pelo aspecto do micélio, que pode variar bastante na velocidade e no padrão de crescimento, na presença ou não de metabólitos e possível alteração progressiva na coloração. A faixa de temperatura ideal de colonização e frutificação também é uma característica que pode variar muito em função da linhagem, juntamente com outros parâmetros de cultivo, como por exemplo a concentração de CO2. O padrão dos fluxos e a aparência dos cogumelos, incluindo cor do chapéu, tamanho do talo, cor dos esporos (as vezes a ausência de esporos), padrão de crescimento do cogumelo e outras características também podem ser bem distintas entre uma linhagem e outra. O principal fator levado em consideração é a produtividade. A seguir, vemos duas linhagens de Pleurotus djamor. A primeira produz cogumelos maiores e com menos pigmentação. Na placa de Petri, crescendo no meio de cultura, o micélio é bastante pigmentado. Já a segunda produz cogumelos menores e mais pigmentados, e a produtividade costuma ser maior, apesar de ser um pouco mais demorada. Na placa de Petri, o micélio da segunda não adquire a coloração rosada.

Quais são são as características de uma linhagem?

As principais características fenotípicas que buscamos selecionar em uma linhagem estão relacionadas a produtividade, cor do chapéu, cor dos esporos, tamanho do cogumelo, tolerância a CO2, diferentes faixas de temperatura, velocidade do cultivo, sabor, textura, diferenças químicas e nutricionais. 

Como saber se uma linhagem está velha?

Independente da espécie de cogumelo, todas as culturas eventualmente dão sinais de envelhecimento, processo conhecido como senescência. Algumas espécies são mais resistentes do que outras, sendo necessário renovar as matrizes a cada 12 meses, já outras perdem a viabilidade muito rápido. Podemos atrasar a senescência das culturas no laboratório através dos métodos de preservação, porém em algum momento é necessário adquirir outra matriz. A senescência causa, dentre outros problemas:

  • Diminuição na velocidade de crescimento do micélio 
  • Dificuldade em produzir primórdios
  • Muitos abortos
  • Cogumelos tortuosos e prematuros
  • Resistência a doenças e pragas
  • Sensibilidade a variações de parâmetros

Micélio velho é sinônimo de problemas no cultivo. Uma linhagem com sinais de senescência terá dificuldade para se desenvolver no substrato, atrasando a fase de colonização e frutificação. Além disso, durante a frutificação, uma linhagem nesse estado tende a produzir menos cogumelos e com um número relativamente alto de abortos. Os cogumelos podem apresentar deformações severas, como por exemplo a abertura prematura do chapéu, e o bloco de substrato pode contaminar mais facilmente ou sofrer com variações de temperatura, umidade ou CO2. Um cultivador experiente está sempre acostumado com o “comportamento” do seu micélio durante o cultivo. Quando ocorrem diferenças no cultivo e que não são atribuíveis a fatores ambientais (mudança de parâmetros como CO2, temperatura, umidade ou substrato), é necessário ficar atento. Utilizar linhagens velhas pode comprometer seriamente uma operação de cultivo de cogumelos. 

 

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